Eu até poderia te ligar agora, como tantas vezes te liguei e depois me arrependi, pra te lembrar do calor dos meus braços, do vinho a beira mar, dos filmes no sofá da minha casa, do cafuné no chão da tua sala, dos nossos pés gelados por fora do edredom, das músicas que você errava o refrão, dos tantos livros que esqueci no banco do carro, da minha companhia nos lugares que só você conhecia e eu nem gostava tanto, do teu cotovelo batendo na minha cabeça quando você tentava me fazer algum carinho, do teu celular vibrando, eu insinuando que alguém estava quase te roubando de mim e você sorrindo me chamando de bobo. Eu te dizendo que preciso levantar da cama porque tenho aula e o professor não tolera atrasos, e você me puxando pra ficar mais um pouco, e eu me cedendo por você, e você perguntando se eu prefiro ovo mexido ou mal passado, eu te respondendo – enquanto calço o sapato – que tanto faz porque ver você de samba canção e com o cabelo embaraçado no fogão era engraçado...