Nunca lhe escrevi uma Carta
Na verdade, escrevi. Mas pedi a alguém que lhe entregasse e logo
me arrependi. Conforme previsto foi entregue com sucesso, porém você nem se deu
ao trabalho de abri-la e conferir o conteúdo.
Talvez por medo de confirmar seus pensamentos nas linhas a
seguir ou por não ter o que dizer quando constatar sua teoria.
Lembro-me que devolveu imediatamente, sem nem ao menos piscar de
curiosidade.
Havia me esquecido a forma de como o enxergava. Por anos me
senti forçada a apagar esta lembrança. Até mesmo porque nem sabia o motivo que
o levou a não ler a carta. Afinal, não tinha nada fora do comum ou até mesmo de
extraordinário em minhas palavras. Talvez fosse uma despedida ou até mesmo uma
declaração... Você nunca saberá (e com certeza não espere que eu diga!).
Sempre fui boa com escrita e gosto de usar as palavras que dão
duplo sentido. Há um ar de mistério, o que nos leva sempre a procurar respostas
e investir em resultados significativos.
Li recentemente um livro chamado: “Para todos os garotos que já
amei – Jenny Han”. Confesso que me atrai quase que imediatamente pela história.
Temos muito em comum: a personagem e eu. Minhas cartas não
retornaram. Acho que os garotos guardaram ou jogaram fora (não sei!), mas se
divertiram com elas. E como decidi bloquear essa parte da minha vida, eles não
tocam no assunto porque é constrangedor demais para ambos.
Somente um (também enviei para cinco garotos!) retornou com a
carta em mãos e questionou se eu ainda estava afim dele.
(Só pra constar... Eu não amei esses garotos. Era só cisma
adolescente)
Mas voltando... Era época de festa na cidade e estava frio, por
não saber dizer não, disse que sim. Acho que a pior decisão que tomei e maior
mentira que já contei! Mas enfim, quando o garoto tentou me beijar me afastei.
Segundo: Ele era apaixonado pela namorada e só tava dando um
tempo com ela (e queria mostrar que era fodão).
Terceiro: Queimei meu filme antes mesmo de poder explicar o que
havia acontecido (uma amiga havia me alertado sobre o tipo que ele fazia e eu a
ignorei! # besteira).
No dia seguinte fui informada que o beijo foi uma piada de mal
gosto e garantia de catástrofe. Já que o cara alegou que eu estava super
nervosa por ficar com ele (o garanhão!) e que eu tremia feito “vara verde”!
Qual é? O mês de Agosto é o mais frio do ano por aqui. Preferia
estar bem arrumada a parecer um colchão de casacos. Isso na época, claro!
Hoje nem nos falamos mais. Se ele se lembra de mim, acredito que
não, mas se por uma fração de segundo acontecer, com toda certeza ele deve
fazer questão de ignorar assim como eu.
Após divergências por obra do destino, prometi a mim mesma não
mais escrever cartas a ninguém. Nem mesmo pra mim.
A sensação é a seguinte: No momento em que escreve descarrega
suas emoções no papel. Em alguns dias irá esquecer na gaveta e quando passar
dias, meses e anos irá ler tudo outra vez e rir de como era ingênua e
acreditava que as palavras causariam efeito se fossem ditas.
Pode parecer besteira, mas só quem fez algo dessa magnitude sabe
como é.
Por mais que tente não se expor, sempre existe aquela pessoa a
espreita e macabra dentro de você que lhe fará lembrar essa informação.
Posso dizer que cresci, mas ainda sinto saudade das cartas C3 (curiosas
criativas e comunicativas).
Talvez alguém desperte esse lado que há muito tempo havia me
esquecido e eternizado. E talvez só o tempo tenha respostas para o que escrevi.
Comentários
Postar um comentário