Quando Você Aprende A Se Divertir Sozinho, Lugar Com Muita Gente Incomoda.
"É muito estranho para a maioria das
pessoas a ideia de sair sozinho. Comer sozinho, beber sozinho, andar
sozinho sem rumo, tudo isso é visto como sinal claro de solidão ou de
excentricidade. Mais solidão que excentricidade, já que a maioria
esmagadora de nós não é “cool”, nem tem “estilo“,
embora nesses nossos tempos de obsessiva felicidade postada e da
necessidade de celebrização de tudo, ninguém admita sem muita
resistência a própria mediocridade cotidiana.
Contudo, existem pessoas que
verdadeiramente gostam de passar algum tempo sozinhas e que sinceramente
se divertem consigo mesmas. Mais que isso: em alguns momentos essas
pessoas não querem a companhia de mais ninguém.
Fim de semana. O indivíduo resolve sair para comer. Sozinho.
Domingo à tarde. O sujeito resolve ir a um bar. Senta sozinho, abre um livro e pede uma cerveja.
Sábado à noite. A pessoa resolve não sair. Fica em casa para ver um filme e para cozinhar… Para um.
Essas situações sempre geram
incredulidade e surpresa, e provavelmente geram olhares de espanto e
pena de garçons, ou risos diante de uma pessoa sentada num bar com um
livro, ou ainda críticas a alguém que decide ficar em casa sozinho num
sábado à noite. Facilmente esse alguém é chamado de solitário e
esquisito.
Pode ser que nessas ocasiões não haja má
intenção de quem olha torto, ou ri ou critica; essas pessoas
simplesmente não entenderam nada. Ruim para elas.
Então mesmo possuindo ótimos amigos e
gostando muito de sair com eles, a questão é que tem dias em que uma
pessoa quer apenas a sua própria companhia; quer desfrutar apenas as
suas próprias ideias, suas próprias bobeiras, bem como aproveitar um
tempo para fazer uma autoanálise sobre os tropeços que tem dado na vida e
sobre o que é preciso para erguer novamente sua espinha própria dorsal.
Uma das coisas interessantes que
deságuam nisso é que todos os dias, vídeos, imagens e textos sobre
autoestima são publicados à exaustão nas redes sociais. A quantidade é
tanta, que chega a um ponto em que tudo começa a ficar com uma cara de Augusto Argh Cury (inclusive textos do Obvious!), o que te faz preferir um tratamento de canal a ver mais coisas desse tipo.
Mas quando você percebe que passar um
tempo somente consigo mesmo é algo que lhe agrada ao ponto de você se
arrumar e sair de casa só pra isso, você percebe com muito espanto que
algo daquela quantidade de coisas que leu/viu/pensou/ouviu, de alguma
forma entrou na sua mente complicada e provocou alguma mudança que você
sequer percebeu. É nesse dia que você descobre que gosta muito de si
próprio, mesmo ainda tendo um caminhão de conflitos e encanações
estacionado em sua garagem.
Então, seja qual for o motivo da saída
solo, por si só ela é um indicador incrivelmente positivo, e mesmo que
se saia sozinho para fazer uma autoanálise, isso não é sinal de
tristeza.
Q) Isso significa que a
pessoa que tem disposição para sair de casa sozinha, aleatoriamente,
está num estado de espírito muito melhor que quem se recusa a sair sem
companhia?
Negativo! Não há nada de especial nisso; é apenas diferente.
Consequência disso tudo é o desejo de
calma, de sair sozinho para algum local sem aglomerações nem festança; e
se houver algum evento, que seja num local em que ninguém te conheça.
Daí ao sair, ocorre que a pessoa chega
ao lugar, vê que ele está tranquilo e acha ótimo. Ela se se acomoda e
não dá muita importância à estranheza das pessoas ao seu redor, diante
da sua figura equivocadamente vista como solitária por elas.
Está tudo indo muito bem, até que de repente o local fica cheio de gente, e isso era exatamente o que mais se temia.
É claro que quase todo mundo gosta de
gente, gosta de ver e de conhecer pessoas novas, MAS NÃO NESSE DIA!
Nesse ponto, você que está lendo já perguntou “mas se uma pessoa não
quer ver muita gente, por que diabos sai de casa?”. Sim, a pergunta
procede, mas é assim mesmo: a pessoa quer sair de casa mas não quer ver
muita gente. Conflitante? Sim; não discordo!
Acontece que justamente nesse dia o que
não se quer é ver um monte de gente fazendo selfies, reclamando do sinal
da Tim/NOS/Movicel e praguejando porque não consegue fazer um check-in
no Facebook.
Nesses momentos fica evidente que local
com muita gente é ruim e uma boa saída é ter às mãos um bom par de fones
de ouvido que o isole das outras pessoas, até porque é incômodo quando
os outros compartilham sua privacidade contigo à força.
Mesmo que você tenha chegado primeiro ao
lugar, você tem a impressão de que a turba que invadiu o local roubou
sua privacidade, e começa a sentir que na verdade, você é que passou a
ser o intruso a partir de agora. O seu momento pessoal tornou-se frágil
diante da coletividade festiva, e infelizmente a questão numérica vai te
vencer. Você pede a conta.
Na verdade não se trata de uma derrota.
Talvez “desistência” seja um pouco menos impreciso, pois nesse caso,
simplesmente o local mudou de configuração, e se antes ele tinha as
condições ótimas para uma saída solo, agora ele ficou com cara de
programa familiar ou quase uma balada, e você não saiu em busca disso.
Logo, simplesmente o local deixou de ser interessante pois muita gente
incomoda, e você só queria permanecer tranquilo na melhor companhia com a
qual saiu de casa: você mesmo.
Se criar esse bem-estar consigo mesmo
foi difícil, encontrar um outro lugar para desfrutar dele é a tarefa
mais fácil do dia. Avante!"(Fábio Moon)
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