Carta de um Ex para o Atual
"Você sabe que não deve fazer
cócegas nela porque a machucam? Sabe a diferença dos seus sorrisos sarcásticos
e felizes? Sabe que não deve opinar sobre sua família, nem falar mal dos seus
antigos namorados? Só de mim, eu sei. Creio que você não tem ideia do
que é dormir com ela. Dormir, não f*der. F*der, também. Mas dormir.
Dormir e acordar ao lado dela. A
vida dela é torta. Não se esqueça disso. Ela sempre acorda com sono, mas, quase
duas da madrugada, fica se remexendo na cama caçando o tal sono que perdeu pela
manhã.
Pra ela, tudo tem nome de
“coisa”. O controle remoto é uma “coisa”. A bolsa é uma “coisa”. O talher é uma
“coisa”. Até o cachorro é uma “coisa”. Certa vez, ela disse
mô-tô-sentindo-uma-coisa-estranha. Pra mim, era um mau pressentimento. Ou fome.
Ou cólica. Sei lá. Era amor. Amor-coisado, ela disse.
Ela me amava, cara.
Ela é toda sinais. Corta o cabelo
quando quer mudar de vida. Mais de cinco centímetros é porque ela quer
revolucionar o mundo. Cuidado nesses momentos. As cores das unhas e das lingeries
determinam sua libido. Quando põe batom, pensa em beijar. Brilhos nos lábios,
também. Saiba disso, cara.
Mas ela, também, sabe fingir. Vai
fingir não se importar, ser forte, ser sabida ou esperta. Vai fingir até que
não precisa de você, mesmo quando ela estiver com trinta e nova de febre e
batendo recordes de espirros por segundo. Não ligue. É porque ela não quer que
você a encontre com o nariz todo vermelho, tossindo feio e com a garganta
inflamada. Mesmo sem ela deixar, vá visita-la e cuide dela. Por mim e por
você.
Ela fuma quando fica brava ou
quando bebe. Bebe quando quer, sem ocasiões especiais. Certo dia, acordou num
domingo bebendo vodca no café da manhã. Mas ela sabe aproveitar um belo
achocolatado, também. Vai parecer durona, vez em quando. Mas é menininha, vai
por mim. Faça carinho na bochecha. Ela não irá resistir.
Ela não se importará em dividir a
conta. Caso você proponha pagar tudo, ela não deixará, mas mesmo assim ficará
feliz com a tua atitude. E com um tempo, ela irá pagar a conta, também.
Muito provavelmente, em alguma
quarta-feira qualquer, irá te ligar no meio do expediente só para te passar uma
notícia boa e vai dizer que deseja comemorar no restaurante predileto dela: o
japonês na esquina de sua casa.
Vai se impressionar com um tanto
que ela consegue comer por segundo. Ela gosta de molho teriaki e de sashimi. E
não sei se já aprendeu a comer com hashi. Acho que não. Ofereça ajuda.
Ela é tão homem quanto todos os
homens. Gosta de coxas, bunda, barriga e virilhas. Quando vai à praia, costuma
reparar no volume das sungas alheias e comentar com amigas. Mas ela se apaixona
mesmo é por bocas. Lábios, sorrisos, mordiscadas e palavras.
Quase sempre, apaixona-se por
homens de humanas. Adora ouvir sobre psicologia, política, literatura e cultura
pop. Mas não fale feito um tolo. Saiba ouvir, também.
Caso você ainda não esteja
apaixonado por ela, vai ficar encantado quando ela começar a falar suas
poesias, Rimbaud, Manoel de Barros e sobre sua vontade de se entender. Ela vive
num eterno questionamento sobre si. Faz besteiras e logo se arrepende.
Mas acredita que todo erro existe
para o aprendizado. Não a julgue por isso. Nem tente entendê-la.
Por fim, apenas entenda e aprenda
que sem ela, você será como eu: um prisioneiro eterno das lembranças."
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