As Lembranças Pertencem A Mim



Lembro-me de idealizar o primeiro beijo. Diziam que teria fogos de artifício, borboletas no estômago e seria doce.
Recortes de revista faziam parte do meu dia-a-dia. Eram meus confidentes e uma realidade alternativa em que eu pudesse viver(muitas vezes).
Saltos alto, vestidos e maquiagem eram algo que torcia pra crescer e usar.
Faculdade estava na lista de desejos. Era a meta que impulsionava meus estudos no ensino médio.
Sonhava com meu cantinho. Uma sala simples com um vaso de lírios ao lado da porta de entrada e meu violão no canto ao lado do puff.
Uma extensa marcação no mapa de lugares que visitaria em um curto período de tempo.
Independência. Respirar o ar da liberdade.
Lembranças que não só pertencem a mim como a um tempo sem volta.

No primeiro beijo não teve fogos de artifício. Não senti borboletas no estômago. Não foi como achei que fosse!
A história que criei com os recortes daria uma novela. Eles foram extintos há dois anos. Tiraram-me a chance de despedir!
Saltos alto, vestidos e maquiagem hoje são banalizados. Não uso, já que não tenho pra onde ir. Passo tanto tempo no quarto que me sinto parte da mobília da casa.
Faculdade foi outro quesito que deixei pra lá. De que me adianta ter um diploma se o país tem mais desempregado formado do que empregado alfabetizado?
Sem emprego não consegui conquistar meu espaço. Não tenho meu cantinho, na verdade, nem moradia direito eu tenho. Consegui o violão há uns anos.
Até minha fútil existência conheci 10 (dez) cidades. Nenhuma a passeio.

E... Sou dependente. Da minha avó. O que é constrangedor e humilhante. Estou tendo que engolir o orgulho todos os dias. É um veneno e sinto que corta.
Eu... Eu... Estou com enorme aperto no peito. Durante dias tentei chorar. Busquei arrancar essa dor. Essa mágoa que não cessa e não me deixa sozinha.
No início era forçado, mas agora está tão natural. As lágrimas escorrem pelo rosto e agora preciso me forçar a não chorar e controlar essa ânsia.
Posso estar rodeada de pessoas, estar conversando, sorrindo, cantando e dançando, mas sempre estou sozinha.
Dizem que quando você permite que a escuridão entre. Ela se torna parte de você.
Estou perdendo o controle das emoções. Engoli tanto lixo sentimental, tantas palavras que nunca disse... E agora não sei o que fazer com tanto material.
O pior é guardar tudo isso e um pouco mais pra si. É como ser atropelada todos os dias pelo mesmo carro e no mesmo trecho da estrada, só que por um motorista diferente.


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